11 novembro 2006

De volta

e feliz como o pássaro que, asa antes partida, se lança agora nos vazios entre os penhascos do correr riscos. A mim todas as golfadas de ar gélido! Estou viva!
Bom dia!

05 novembro 2006

Senhor!

Recebi nova chamada (3ª!). Reclamam-me noutra capital para a entrevista de uma vida: da minha! Precisei de fazer malabarismos para ausentar-me, mas sei que valerão a pena todas as corridas entre voos. É desta, é desta! Deus é Pai! Se houver tempo, postarei da estranja (Yupiiiiiiiiiiiiiii!)!


Até breve, amores meus!
.Beijinhos com sabor a maresia.
:D

Sinais exteriores de

...*
Dói-nos o peito. A dor aumenta se, ao respirar fundo, nos vêm à memória aquele rosto, o andar, o riso, o odor de um after-shave. A respiração faz-se mais funda. A dor continua. A respiração acelera-se. Revemos risos, recordamos frases, baixamos os olhos, relembramos o toque morno do primeiro aperto de mão, o oficial, o primevo dos toques. Tudo o anterior é em câmara lenta, ao estilo d' A Lentidão de Kundera e nós somos as mulheres voluptuosas que Kundera saboreia com palavras. Queremos fazer permanente a presença de um corpo que estremece se passamos. Estremecemos também. Desde as fundações até aos fios de queratina ardentes de ruivo a que se convencionou chamar cabelos. O outro corpo encara o nosso e abraça-nos de olhares. Enlaçamos de volta, lavadas em riso. Cora-se, por vezes, por pudores que deliciam a outra parte, o outro corpo que já imaginamos parte do nosso. Unos. Trinos. Há volúpia nas golfadas de ar que nos devolve a atmosfera e sabemos parte do que o outro também fará suas. Devolveremos vapor de água que será uno quando humedecermos as janelas dos quartos partilhados. Queremos ser o pedaço de pão que o outro abocanha, o sumo que bebe e lhe humedece os cantos da boca, limpar com beijos pequenos e lentos, um de cada vez, em desenho recortado, a humidade do sumo que lhe dê brilho aos rebordos de uma boca que queremos mais do que ao pão que o nosso estômago reclama. Queremos ser a colher com que rodopia o aromático café que inala sob os olhos. Queremos ser inaladas por toda a extensão onde haja poros. Queremos do outro corpo todos os poros como um terreno que conquistámos sem luta, porque não acreditamos em conquistas óbvias e desde o primeiro momento estava escrito que estava escrito que estava escrito (estava!) que seria aquele nome entre os nossos dentes-infantis-de-neve-limpa, entre os lábios-rosa-pálido-húmido como auréolas de seio que nos coroam a mucosa-boca, sobre a língua vermelho-cereja inflamada do sangue que lateja quando dizemos aquele nome. Queremos acordar com aquele nome. Acordamos com o nome, um dia acordaremos com o dono do nome que chamámos no vazio, entre mantras Aummmm - Om Klim Krom - Nam Myoho Rengue Kyo - Amo - Eu amo?... Aummmmmmmmmmmmm, dizemos. E diz-nos o corpo que está feliz. A cada passo, somos gulliverianas deusas com o dom da ubiquidade, voamos com asas nos pés, mercurianas, dom da palavra, a nossa dicção que o homem bebe como bebe hidromel. Queremos eternizar o nosso nome na boca dele, recordar a delícia da língua que colámos ao céu-da-boca quando ele nos disse, pela primeira vez, o nome que nos deram aqueles que mais nos amam, os nossos pais. Ele honra o nome que para nós reservou o sangue dos antepassados hoje volvidos pó. Sabemos que tem de ser, que sofreremos mais do que mãe que vê o filho a caminho de uma guerra, que nos fará esperar horas a fio enquanto se entrega a afazeres inúteis do seu dia, que um dia lhe veremos as costas enquanto outra mulher nos tomará ceptro, trono e senhor. Sabe-se tudo, mas a entrega está ao nível de um nirvana particular, um jardim secreto pequeno como a cabana que fazíamos com a mãe sob os lençóis da infância, um lugar recôndito e sem fim à vista, pleno de arcobotantes e colunas de todas as minas de Mória do Snhor dos Anéis. Neste sonho há elfos: somos nós a sua rainha, orelhas desiguais, rosto magnético, olhar perdido no vago. Algures, no horizonte, um caminheiro viu-nos no banho do rio, cobriu-se de cobiça, deu-nos suave caça, aprisionou-nos no seu peito. Liquefeitas, estaremos prontas para a entrega de todo o património de alma que juntámos. Trazemos dores, apreensões, fundas alegrias como a do corpo em flecha sob a água da piscina, aguentando a respiração a caminho de Deus, ondulando de prazer. Sem culpa nem mérito, estendemos a paixão até limites de palavras cujo significado nos saberá sempre a novo. Tudo nos sabe a novo. Espera-se o melhor. Não se espera nada, mas dá-se tudo. Nus, ausentes da Força, estaremos sempre aptos a que nos rasguem a fome de ternura. Dilacerados, teremos a certeza de ter vivido. Gasta-se a noite em pensamentos, planos, conjecturas e tudo vai dar àquela boca, àquelas mãos esguias e cálidas que nos marcaram para sempre, aos nossos olhos encerrados a todos os outros que existam em volta. Quer-se morrer de prazer. Morrer-se-á. No dia em que a nossa vida recomece e tudo nos saiba a novo. Renascidos, saberemos então que Ser caprichoso é este que nos habita o peito em dor permanente. Inala-se o fogo, lábios entreabertos, olhos fechados. Silêncio do Potala. Tecto da vida. Coração a compasso,seguimos o som da voz que nos chama do éter.
* Paixão...?

É ela!

[Revista Notícias Sábado de 4 Novembro]
«Depois de Murmúrios - "porque não há necessidade de muita exposição e quando se murmura ou se está em silêncio também se diz muita coisa" * - veio Post-scriptum, uma nota de rodapé onde cantou temas inéditos.»
* Cristina Branco dixit.
Gosto, gosto, gosto. Da música e, sobretudo, da personalidade desta Mulher tão sensível e tão granítica! Comparada com ela, Mariza é insuportavelmente ignorante e desprovida de brilho, no meio de toda aquela vaidade provinciana. Valem, a Mariza, um físico nada prodigioso mas longilíneo, belas mãos, uma voz suportável (só se não tivermos de ver a criatura: os trejeitos, ai, Senhor, aqueles trejeitos DulcePonteanos... Argh...) Cristina Branco dá cartas! Tem um novo trabalho fresco. Compro!

Hmm...

Obrigada, Ana Lua, pela publicação da receita de quiche de (hmm!) espinafres e requeijão! Será parecida com a que comi numa esplanada de Lx, na Magalhães Lima, perto da minha escolinha? Os funcionários do restaurante primavam pela habitual arrogância e total desprezo pela cortesia, mas a tarte, ah, a tarte! Valia ouro! E, gostando-se de vegetais e comidinha saudável em geral como eu, já experimento a receita estes dias. Pode continuar a publicar, please! E se houver muitas receitas de doces, então!... Tenho vários livros de culinária (como qualquer carangueja que se preze), mas gosto mais de fazer receitas que vou encontrando sem contar. Thx!

03 novembro 2006

Sentir-se




«ela».
Desde a verdura juvenil até à máscara mortal, passando pela cintura abarcável com dois palmos, sentir-se ela. Foge-se de um destino a vida inteira e eis que ele nos engole projectos de independência. Sem o ferrete da femme fatale, pode alguém ter de outros o mesmo passo, a mesma densidade de loucura, o mesmo olhar de Rasputine? Faíscas azuis libertam-se deste olhar, o corpo que se aproxima - cada vez mais fatalmente - da mortalidade horizontal sem nada de petites mortes, fujo de mim, malgré moi. Que pode a concentração transcendental de um mantra contra todas as células em revoada contrária? Sem dramas subtis de zénite ou profundos de nadir, deixar que se cumpra a natureza, contrariando-a apenas no muito pouco aproveitável da sabedoria brasileira "faça o que é bom p'ra você", nunca esquecendo o Inominável. Porque o terceiro rosto é o de uma mulher preenchida mas morta. E isso, isso é já definitivo. Brindo ao prazer, portanto; seja qual for a minha máscara mortuária, que ela tenha linhas de riso das noites sem fim à vista. Faça-se a noite em hino à vida: com um riso colado, olhos fechados, um jogo com prolongamento e sem cansaços. Antegozo d' "o que meu for, a mim virá". Vir eu à tona, cabeça fora de água, exangue e, por isso mesmo, viva por dentro, cor mudada aos olhos. Toast!

01 novembro 2006

Os Casaquinhos de Malha outra vez!

For What It's Worth - The Cardigans

Escrever

Mal. Muito mal. Mesmo.
Demasiado esforço. Cansativo. A metro, ao quilo.
Matificante. Simultaneamente oco e rebuscado.
Enfermiço. Não flui. Não fala à alma. Arghhh.
Em duas palavras -
e assumindo que, dentro da crítica, este é o nível básico -:
não gosto. Viva eu as vidas que viver, nunca suportarei algumas escritas
antonioloboantunesianas.
Categorizo como Blotóxico, porque me faz pensar nos blogs imitando escritas intragáveis, aqueles que, um dia, venderão os livros que eu, mulher de bom gosto, nunca comprarei e abandonarei num banco de jardim se alguém se atrever a oferecer-me exemplares.
Escapa-se-me-nos-lhes.
Ohbladi, ohblada life goes on oh
La la - la la - life goes on
[Urticária...]

Prece

Face ao mar-oceano, carta de marear nas mãos, escolho as minhas rotas traçadas sobre as águas que rasgo, eu, mulher de proa, olhos perfurados, SINTO, recolho as benesses do culto prestado. Olhos húmidos pelos que já fizeram a travessia e repousam sob o pó - recordei-os hoje, na igrejinha de talha dourada onde me deram por nome Virgínia-Inês Alva, joelhos na pedra fria perante A Presença - agradeço tudo o que veio: o bem imenso que me dói pelo esmagamento de tanta paz; o mal que deixei crescer neste casto, glabro peito para o conhecer já depois dos 33 e evitar as suas formas e avanços; o amor que dei sem nada receber excepto a frieza quando era por calor que implorava todos esses dias em que o meu nome na tua boca se foi esbatendo (eu queria ser sempre uma deusa aos teus olhos, tudo fiz para ser cada dia, cada noite a primeira, não sei mais, não sei mais, não sei mais... esgoto-me); o vazio desde a infância por não saber porque me puseram nesta Terra e que desígnios eram estes que me trazem a cada golfada inspirada a noção de um Bem-Maior; a noção exacta do peso do meu riso, do veludo do meu olhar, do deslizar dos meus passos, do sereno da minha voz, das santas mãos que me tocam no quotidiano, o riso dos outros de volta - espelho meu, da que sou - de todo o amor que tenho recebido. Privei-me dele, do Maior-afago, da simpatia, da ternura a não ser por crianças e pássaros, gatos e veios de folhas na contraluz e poças de água no chão reflectindo a abóbada celeste, e mármore e granito e brilhos na terra salpicada de orvalho e o silêncio das esferas vento e mar e areais imensos e risos fundos até ao fim do mundo e ao âmago dos olhos e amor por ti e amor por ti e amor por ti, ao ponto do quase-filho, implodi no peito a minha Luz, amordacei a ternura, fechei-me à Revelação, afastei do Potala os passos incertos. Aninhei-me no ventre materno e cortei pulsos e vesti-me de negro e cortei a minha boca desde uma orelha até ao lado e prostrei-me e bati-me pela frimeza cega e fui guerreira (e como sangrava por dentro, Pai!) e escondi a minha beleza e fiz-me pequena e deixei que outros brilhassem por mim e humilhei-me e desejei que a terra me engolisse o magnífico do corpo e não quis outro corpo além do teu e atravessei o deserto e vi que estava só.
Fiz todo o percurso inverso.
Amadureci como o fruto líquido a ponto do rebentamento de prazer - e para ele, apenas para o prazer fui feita, eu, a que se negava ao seu destino grácil, óbvio, premindo-me a cada passo, sempre que desviei o olhar e fui desejada até aos paroxismos das loucuras que finjo não ver por preservação de nergias espirituais, para que frutifiquem os actos certos com as pessoas certas, em noites de amor em mantras, suculento tantrismo de quem tem os dons, as artes da sedução nas mais ínfimas células - fiz-me virtuosa.
Regressei a mim.
Recolho agora os frutos e peço à Presença, Gracioso Kundun e a Maat e aos Elementos, perante os quais queimo todo o incenso que o dinheiro compre que me façam ser capaz de tomar contra o peito este imenso braçado de rosas de Alexandria que a vida me entrega. Esteja eu à altura dos desafios que me colocam no côncavo das mãos, tenha vivos os que amo em tempo imenso e, sobretudo, regresse sempre a Casa, angariando infância, espalhando ternuras líquidas pelos olhos, em Acção de Graças. Descalça, as cinzas dos prazeres epicuristas nos cabelos. Olhos pintados de negro, cabelos em oferta, hena nas mãos, ventre nu, olhos e corpo acesos. Silêncio.
.Dedicado à Grande-Dama do brilho na escuridão: uma Mulher sidera.

31 outubro 2006

Bu!


Hoje, o B de BloggerBeta tinha...
dois dentinhos draculinos* (!),

talqualzinho como aquele homem-brasa ali de cima
[ah, o que aquele felino
com olhos de carneiro-mal-morto
me arrasa de paixão!
Rai's partó homem!]

*Imitando o futuro-papá Google, hein? Boa malha!
Long live BloggerBeta!


!Rrrrrrrrrnhauuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!

KYO

.Nam Myoho Rengue Kyo.
[o mal existe: exorcizar; para descomprimir, recitar]
.boas noites.

Gárgulas

A tribo dos camafeus-múmias continua a farejar o trabalho alheio, todo o trabalho alheio, em passeatas pelo talento de outros - tudo lhe é alheio, tudo o que toca azeda, mete-se pelas costuras das roupas de quem lhe interessa, já é da praxe, a fama precede-a -, fareja, fareja, cutuca, cacareja, gargalha e brame como um macho e só ri do mal, só ri do mal - a prole anda-lhe no mundo, boa sorte, prole - entra em todas as festas, é um tremoço, uma oferecida, um copo descartável, foça e fossa até às bainhas, aos âmagos, faz chamadas, dá toques, comanda papalvos, sofre de formicação, marca encontros para actualizar-se, faz perguntas imundas, e foça e fossa - a prole anda no mundo, boa sorte... - toda se exalta em bílis negra, destrói, dilata invejas e dislata, dispara, banaliza, dessexua, fede, causa nojo à pele, machixa-se, desfeia-se, olhar de louca-furibunda, e quer, açambarca, carneiriza, ela, carneiro, grotesca, máscula, imbecilizada como guernica pequena com más tintas, apouca os lugares onde entra, sem classe, sem brio, sem mistério, sem fêmea dentro que a aqueça, esbate-se, expõe-se, esmaga tudo à passagem, bestializa, indecente, horrenda, feia, feia, feia, cada vez mais feia, mais incapaz, dedos tortos produzindo fel, caída, abortada, nula, vaga, esquisso de sucessos possíveis à força, ah, asco, brouillon, rascunho tosco, asquerosa mácula, mancha negra, infeliz, desinfeliz... estropia tudo o que é belo. A desculpa das várias personalidades aplica-se à cronicidade de ser escova: que ninguém esqueça que existe! Há-de prostituir-se até ao osso, até se crer saciada. Nunca lhe chegará e, à boca pequena, o mundo ri, o mundo esguelha-lhe os olhares de cínica previsão: «Coitada, é uma triste, tão falsa que brilha no escuro...», tragicomédia de si, não passa de inseguro apoucamento de indústria, observa a beleza do mundo, rosa enjeitada disfarçada de gente-gente. Escória. Resto. Pena...
Morrerá a tentar: o brilho não se compra com graxa, dona fea!
Uma Mulher não se vende.
Uma Mulher não rasteja.
Uma Mulher sidera!
[Elles se rendent pas compte, dizia Boris Vian]
{Influências: Hallowe'en por toda a escola,
vem aí a noite delas, que posso eu contra?
Las hay, las hay...}

30 outubro 2006

29 outubro 2006

Macro-causa

Embora faça tudo para não seguir
os assuntos mais na moda,
este assunto interessa-me deveras.

Eu & as Listas

Após um leve sábado - é o dia da família - um domingo de trabalho: levantar pelas nove, roupa de Verão, limpezas de Verão, plantas, pássaros, depósito dos detergentes da máquina a precisar de barrela, lavar, pôr a secar, passar roupas brancas de casa e as negras de sair, ir ao ecoponto, exercício na bike fixa (aproveitar para ler um pouco ao pedalar), duche, reenvernizar unhas, desembaraçar cabelos com sérum (grandes de mais, uff!), e, finalmente, pelas 17, começar o trabalho da escola... Vida de professora!
[Nova lista...]
Fazer três versões de um teste (os miúdos são ariscos!); correcção de uma turma; procurar re-adaptar as planificações previstas para a turma mais lenta; propostas para o Plano Anual de Actividades (levo;não levo / levo;não levo a malta a Lisboa este ano...?); procurar 1 cd c/ actividades e dois livros para duas colegas... Vou trabalhar seis horas para a escola que tornam o meu horário extensivo às quase 50 por semana... Ria, Srª Dona Sinistra, ria, lá no Altíssimo Ministério!
Que dia! Bem, depreendo que estou viva...
Hoje, dormir à meia-noite (???).
Amanhã, levantar às sete zzzzzzzzzzzzzztóing!

Rimpoché*

«O êxito é o fruto de um profundo conhecimento de si próprio e dos mecanismos do mundo. O êxito social fica frágil, ameaçado, se não tiver as suas raízes no êxito interior.»
[p. 44]
«O que tu perdes, tornas sempre a encontrá-lo, mas de um modo diferente. Cultiva a paciência e as coisas virão ter contigo.»
[p. 44]
«Tu és lúcido e conheces a brevidade da vida entre o nascimento e a morte. Aproveita-a. Utiliza a vida como uma via rápidapara atingir a Sabedoria. Não percas tempo. A tua vida começa hoje.»
[p. 51]
«A posse impede a paz da alma. É o reflexo destruidor que gera o sofrimento.»
[p. 54]
«A partir de hoje decide-te por um género de vida diferente. Não deixes instalar-se o imobilismo e o envelhecimento na tua relação amorosa. Opõe-lhes a espontaneidade, a energia juvenil, emoções novas e sonhos novos. A dúvida e o tédio envenenam muitas vezes o amor. Redobra a tua vigilância.»
[p. 57]
«Mantém aceso o amor em permanência como um fogo, com perfumes, cores, música. Cultiva a sedução. Aprende a fazer brilhar os teus actos, os teus pensamentos, os teus desejos. O amor precisa de luz para viver.»
[p. 57]
«Deves reencontrar a infância, como o cego reencontra a vista.»
[p. 63]
«Não sejas o portador das opiniões dos outros. Afirma o que tu és, sem temer o escândalo.»
[p. 94]
«Evita pôr máscaras. Aceita a confrontação com os outros ficando o que és.»
[p. 95]
«Não vás de encontro aos acontecimentos com um sentimento de medo e de agressividade. Adapta-te ao ritmo deles, e salta por cima deles. É assim que o adepto monta sobre o tigre.»
[p. 103]
«Ver as suas trevas, é possuir uma grande luz.»
[p. 113]
«O medo receia a luz. Põe fim à desordem do espírito iluminando-te a ti próprio. Torna a ser o senhor do reino.»
[p. 129]
«A cólera é uma das formas visíveis do medo. Na cólera, é o medo que n os
toma de surpresa.»
[p. 131]
* RIMPOCHÉ, Dugpa, Preceitos de Vida, Pergaminho, 1999.
O livro esteve na casa da família: não lhe foi dado o uso devido por quem tanto precisa(va) de reflectir sobre quem é e a forma como se conduz pelos caminhps que cabe a cada um traçar. Hoje, pedi-o de volta. A par com o Tai-Chi, sei que me é útil. Depois da gnose, do budismo aprendido de alguns seres humanos que o Ser me pôs no caminho, tudo flui com serenidade, nos prazos previstos, o amor chega, sem preconceitos, em amadurecido equilíbrio, o vegetarianismo instala-se aos poucos. Agrada-me que esta via não negue, não tolha os sentidos, as sensações de prazer em toda a sua dimensão. De facto, todos os caminhos só poderiam ter vindo dar aqui. A morrer hoje, estaria então perto, muito perto da mulher que sempre quis ser. A leitura de "Sete anos no Tibete" preparou-me para o grande passo.
Curto, sábio & sóbrio é o lema de uma, de tantas vidas.
«.TUDO COMEÇA HOJE
[p. 112]

28 outubro 2006

.Ho(r)ney, honey.

Lembra-se dela? Magnífica, Potente Voz, Linda, Sensualérrima Paula Cole...
[Ali, a preto e branco, parece muito a encantadora esposa do simpático amigo blogger
Dissoluto Punito, mamã de um amoroso Tiago! Família altamente!]
;0)





Em 1998, fascinada por Where Have All The Cowboys Gone? e por uma música que ouvi num filme sobre L'Amour* comprei esse louco CD que tanto passava nas "rádios da moda". Hoje, depois de muito, decidi voltar a escutar. Só lhe aponto o uso por vezes demasiado impetuoso da voz (há lá uns gritos por vezes... arrepiantes!): em Nietzsche's Eyes, a doçura arrebatadora do início em sussurros cantados (oiço-o agora!) passa a gritos em muito semelhantes a uivos caninos... De resto, Carmen, Mississipi, Road to Dead, o esmagador ME, Hush, hush, hush (com Peter Gabriel) e o celebérrimo I Don't Want To Wait são apenas aproximações da música mais horny, moisty e até sexy (detesto a palavra, mas aplica-se) da História da hum(an)idade (é que nem Black Velvet, o tórrido blues de Allanah Miles (por onde andará?) é tão hmmm!): feelin'love (assim, minusculada e tudo, como no cd!).
Feelin'love é a música que mais (me) acende no planeta inteiríssimo!
A batida inicial faz You Can Leave Your Hat On
de Joe Cocker ser um coro de meninos, ah ah!!!
Feelin'love
ouvido pela primeiríssima vez quando vi o *filme City of Angels, de 98 com Nicolas Cage e uma ninfíssima Meg Ryan, perna com espuma fora da banheira, sonhadora, preparando-se para o amor...
E a letra?... Aiiii... (censurado a lápis azul)
Shhhut, no more words...
Deguste, dançando para quem ame, despenteie-se MESMO!
(Eu tb. ando a treinar!)
Oiça & depois diga qualquer coisa!
:0)

Aconteceu!

.cara nova na casa velha.
(efeméride assinalada)
Thx, BetaBlogger!

Parcialidade

A par com a vaidade sem méritos, a parcialidade recobre-se de asquerosos eflúvios. Se nos ativermos à maravilhosa razão (Descartes aprovaria), negaremos o que os simples sentimentos apaguem do nosso brilho. Gosto de pensar que o tempo me reservou as emoções para a escrita, tal como para os que amo. Aos que amo, entrego o coração nas mãos; à escrita dou-me por completo. Para ela não há limites. Creio que chamarei a isso justiça, porque a pratico. A injustiça dos juízos parciais volta-me o rosto com asco. Quem a pratica torna-se um resto de mundo. Tudo o que tolde o raciocínio - como a incapacidade para ser imparcial - é menor num mundo onde não tenho tempo para as simpatias forçadas a que chamo hipocrisia. Não estou cá para servir os egos dos que me rastejem em volta, buscando atenção, porque sei de há muito que agraciar o outro com um "que bom gosto!" é um auto-elogio. Faço-o, mas apenas se há mérito no outro. Se há injustiça, se tenho de ser correcta por politiquice, impeço-me sempre a tempo: nunca me arrependo do que digo ou escrevo. Convicta, digo verdades (as minhas, talvez) sem me arrepender. A parcialidade é execrável, como é execrável a hipocrisia. Aprendi muito, na metrópole...
Sim sim, ascendente balança! Nota-se, pois.
Um santo sábado, lectores.

27 outubro 2006

De Mulheres e Sucubus


Por definição, talvez, aproximo da noção de Sucubus o raciocínio pouco dado a detenções no asco do acto infirme. Sei exactamente a que ponto alguns sucubus (fêmeas que parecem submeter-se mas não passam de subornantes-subornáveis) se sujeitaram para "singrar". Observei-lhes o modus operandi. Poderia fazer tese sobre. Aproximam-se de chofre, fazem as perguntas indiscretas, as supostas certas para agradar a homens com muito a lamentar e necessitando incomensuravelmente da apreciação mundana (também sei de quem lhes dará sempre com as portas no disfarce barato de mulheres-fantoche, personas crucificadas como Pedro escolheu para que o mundo real se revelasse, homens travestidos de feminae!); usam de algo convencionado pelas suas antepassadas como "simpatia" (subterfúgio que qualquer pedinte sabe utilizar se mendiga migalhas) que levarão aos limites leitosos - duplo sentido, não dúbio se a tal se lhes propõe a ambição; primam por azedumes de indisfarçada radix nos termos que postulam (também pustulam, mas apenas aos níveis cerebrais, bucais - formato-palavra - e, essencialmente almático); hoje são tidas como "boazon(d)as", na medida exactamente proporcional aos seus fétidos propósitos (o mundo faz jus à sua percentagem de arrivistas, sem numerus clausus à vista e os homens nunca banirão a prostituição que tão bem lhes serve os propósitos).
Muito escrevi sobre isto: nos blogs, em textos altamente publicáveis - isentos de inscrição em beija-mãos ou lava-pés - que não prostituo (de resto, não prostituo nada de mim).
Não sou da Metrópole, especializei-me a observá-la nos seus vícios de servilismo (mesmo sendo, nunca o admitiria: nada de estragar o controlo da experiência, a cobaia, a Grande-meretriz das belas edificações e do rio-luz mas podre na essência remontando ao reboco pré-pombalino e fértil em tão veramente abomináveis hipocrisias como o foi aqueduto ter sido pago pelo tributo do povo.)
Política: arte & manhas para viver, sobreviver na polis. Há quem não sobreviva. O granito não se molda: pode partir, mas não se molda ao que outros de si esperariam. Sei de cor os veios da pedra: já a trabalhei pelas mãos de outrem.
Só posso ver o mundo pelos olhos deste corpo, o único que tenho. Do corpo caloso sempre fiz pouco uso: prefiro os neurónios, a par com a dignidade dos moribundos saudando César. Será da base gnóstica, opção de vida de tantos antes do mesmo sangue. Íntegra, percebo o que é uma verdadeira Mulher, uma senhora, uma semi-deusa. Amo, no silêncio, o porte da Mulher-Mulher. De resto, os Sucubus, são basicamente desprovidos de caracteres sexuais femininos, suficientemente desinteressantes tanto a nível físico como intelectual. Estão muito longe da sobriedade de Yourcenar, do talento de Bessa-Luís, da seriedade discreta na grandeza de Sophia, da grande escritora do feminismo Maria Amália Vaz de Carvalho ou da digna discrição de Maria Judite de Carvalho. Sei de muitos que escondem as amplas fealdades fazendo-se reféns do mau gosto, do uso das boas-vontades de homens-saias ou da estupidez crónica. Como sabemos, o tumor da boçalidade estende-se aos corredores das academias, onde quer que um homem se babe e se venda. Calcorreio das academias os corredores: dos peripatéticos (caminham muito, procuram muito, igualmente divagam e deliram), sei tantos a quem um mero sorriso bastaria para a rendição às verdades que a mim ou outra mulher conviessem... Até o povo diria que homens fracos são, ali, o mato que grassa...

Quando quero ler sobre A Mulher, leio, entre outras, as palavras sábias desta Senhora e as desta outra Senhora ou ainda desta Senhora. A tese da "amizade" no Portugal do nanointelecto não se afasta muito do pão para a boca.
Porque um sucubus se enclavinha como a alma donjuanina na pedra e assim engoda incautos, néscios e parvus ad aeternum: resta-lhe apenas o banal do truque-barato na manga, o arrivismo, a perna-cerebral-aberta. Uma Mulher é Donna de si: resta-lhe ensinar outras, para ser mais, para na humilíssima sabedoria da deusa, fazer jus ao nome da melhor mulher de todas: a Grande Mãe. Algumas bloggers portuguesas auto-intitulam-se como o que não chamariam às mães: são - gritam-no com megafones - "gajas" (no Porto, a palavra tem que se lhe diga). No Brasil, seriam raparigas. Umas tipas não-atípicas, pitorescas, mensuráveis e comerciáveis à distância, portanto. Subprodutos de uma subespécie de que fala Proust em Sodome et Gomorrhe: flores masculinizadas, estéreis. Baças Amazonas, tribo andropófaga por auto-definição, viúvas-negras por aproximação zoológica. Apoucados pré-féretros, múmias sem paralisia nos membros que interessem no momento, confirmando as modas abortivas. Desvirtuadas da Graça, coladas à inconveniência adolescente, fazendo o culto do grotesco, assassinam diariamente bom-senso e bom-gosto. Aplaudidas nos salões dos seus iguais, nunca deixarão de ser fastidiosas, postiças Madames de Guermantes, sob as quais se ocultam Odettes, cortesãs em presunçosas cocotteries rodeadas de courreurs de poules. Finalizemos, dizendo como n'Os Maias: "Não mencionemos (mais) o excremento". Aceitemos o que se legitimiza como "necessário" a vidas de personas. É legítimo querer-se a aprovação da tribo, mesmo se antes era à mesma que se atiravam pedras. Ah, a moda do politicamente correcto e das convertidas ao sociabloguismo!...

Infelizmente, os sucubus reproduzem-se, eternizando grandes aflições à espécie humanóide. Não faltam exemplos da execrável meretriz às nossas portas, aos nossos pés, apensas aos nossos homens, aos nossos filhos: Portugal é o reino dos hipócritas.
Uma mulher não rasteja, sidera! Maniqueísta? Definitivamente, no que toca aos frutos podres da feminina-espécie, serei sempre. Mulheres a sério, sei de muitas. Gosto de contar-me entre a tribo. Quanto mais não seja, porque volto ao pó a cada novo dia e, primevamente, em honra dos meus mortos.


Sem apreensões, sigo. Não interfiro: observo, medusa. Estudo, com riso posto, o mundo-cavalo de freio nos dentes... Aprendo o que não quero ser, por força de circunstâncias que me gizaram a matriz em indelével liberdade.

À desfilada / Indigoterie

Si les émotions la comblent, si elle devient pensive et pourtant pas sereine; si les battements de coeur subissent l'involontaire violence des hurlements déchirants d'un pauvre fou; si elle est, en quelque sorte, surplombée* par tout un monde qui la secoue malgré elle, alors c'est que ce monstre que l'on appelle assez souvent "L'Amour" - qui a choisi sa poitrine pour s'anicher, pour y faire son nid, pour lui provoquer, dorénavant la bave et la plume, la peur et la paix, la déchirante douleur du plaisir à plus jamais - qui la dévore sens dessus dessous et l'affolle, le regard vidé d'existence, les ailes d'un ange grands ouvertes. La voilá qui marche, sanglante: «C'est la dernière fois que j'aime, je le jure sur tout ce qu'il y ait de plus sacré... Je n'en peux plus supporter les plaies bleu indigo de la liberté en moi meurtrie.»
Sera-t-elle prête, déjà?... Plus jamais.

* Dédié à mon héros bien-aimé (le seul possible):
Pascal Quignard.
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Se as emoções a cumulam, se ela se torna pensativa e, contudo, não serena; se os batimentos do coração sofrem a involuntária violência dos gritos cortantes de um pobre louco; se ela fica, de alguma forma, suspensa* por todo um mundo que a agita apesar da que ela é, então, é porque esse monstro ao qual frequentemente chamam "O Amor" - que escolheu o seu peito para se aninhar, para nele fazer o ninho, para lhe provocar, desse dia em diante a baba e a pluma, o medo e a paz, a cortante dor do prazer para sempre - que a devora no caos e a enlouquece, o olhar esvaziado de existência, as asas de um anjo estendidas. Ei-la que caminha, sangrando: «É a última vez que amo, juro-o sobre tudo o que haja de mais sagrado... É-me impossível suportar as chagas azul anil da liberdade assassinada em mim.»
Estará ela preparada, já? Nunca mais.
Dedicado ao meu muito amado herói (o único possível): Pascal Quignard.
*surplombée - desaprumada, pendendo sobre, suspensa sobre, inclinada...
ou muito + do que...

26 outubro 2006

Noite adentro (passe o plágio...)

Alinhavar acta: agruras de ser a "mais nova" (aquela colega xyz não terá menos de 37 anos? Humm, levaram-me na conversa do "tu és mais clara na escrita, gostas de fazer actas, és boa miúda..." Pois... Todos dormem; eu, que me levanto às seis e meia... alinhavo a acta. Estamos conversados! (Gosto disto, gosto disto, gosto disto, mandem mais (pá...)!)
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ELE já não passa sem mim. (Homens, vocês não são nada independentes, pois não?... Que raio de espécie... deliciosa espécie! A dele, claro: alta estirpe, pedigree, andar de profissional de sarilhos, mas uma profunda tristeza, agora que sabe que há, entre nós, uma poderosíssima química que já se sente à nossa volta - só não vê quem é ceguinho da costa -, e algo o leva a hesitar... Caramba, serei demasiado poderosa? Cumraispartaisto, carago, aos 37 ainda assusto os meus candidatos a pretendentes? Tá bem que estou mais gira que nunca e que deixei de esconder alguns dotes a que o mulherio chamaria trunfos de diva, mas (pá) - retiro o "pá" -, será ele mais corajoso do que tantos ou terei de ser eu a fazer as perguntas (pá)? [Recuso-me a retirar este "pá"!] Um destes dias (pode ser já na sexta ou arredores), faço-me ao lado dos fumadores na empresa do meu part-time, repito o subterfúgio dos outros dois dias para lhe inalar o inebriante after-shave: «Posso dar-lhe uma palavrinha, A.?» e - segura-te, A.! - digo que quero passar à prática do que me tem ditado a líbido mais imaginosa que me foi dado apenas suspeitar possível e me acorda a meio da noite numa boa maldição (raios, abomino o Represas, mas este bit da letra de uma música é na mouche!) ou imolo-me no meu fogo alizinho, agorinhamente, sem apelo nem agravo, ó anda cáqu'ésmeu e vocês aiólhar p'ra ontem evaporem-se se não querem ver chispas ou cheirar a chamusco! Tarrenego!
Ai ai, A. Na minha imaginação bellucciana, és o Vincent Cassel (tu és mais giro) e até já nos conhecíamos nas outras vidas (e tudo)! Raios, será que a beleza intimida assim tanto? Devo cortar os cabelos como todas essas loucas foragidas que escalaram a trunfa e fizeram madeixas loiras ou esticaram as caracoletas (internamento com elas, nunca se tosquia a moldura ondulada e sensual de um belo rosto: mulher que é Mulher faz penteados imaginativos, é camaleónica, solta a juba-até-à-cintura no vento se lhe der na gana)? Devo passar a ser masculina nas indumentárias? Deixar de parecer uma actriz italiana à maneira? Impor-me um andar marcial e másculo, como todas essas matronas horrorosas que me cruzam e deixar de ser feminilmente deslizante e ondulada nos gestos de ex-bailarina? Deveria eu usar dessas roupas acima-abaixo como se tivesse pescado os trapos de um contentor? Ter uma ar mais underground? Engordar? Tornar-me fumadora-de-dente-manchado, mauvaise mine, humor carroceiro e pôr de lado o meu riso de menina-doce-com-laivos-de-um-mau-pensamentozinho-aqui-e-ali? Deixo de usar esta maquilham de Donna e aplatino-me com a lambuzice desses glosses para gente sem lábios de jeito? Passo a fazer barulho com as solarias - óólhem p'a mim, que belos cascos, sou tão alta - e deixo de ser feminina e grácil?
A., tu queres a minha desgraça, homem?...
Faz-te à vida, que cenas loucas não me faltam. E depois, enfim, depois, quero perceber de vez que coisa é esta que me traz ao peito dor imensa que se instala e me põe em cianose, hiperventilação em peito-que-sobe-e-desce mais do que o das patinadoras canadianas após uma exibição de dança no gelo, bafo notório em vapor de água, rubras faces de pudor quando te vejo, olhos baixos para não denunciar que sei exactamente em que perímetro da sala estás, embora me finja autista, ar de quem nem te viu, mas percebe que me observas e me bebes cada palavra dita a colegas, cada passo que medes, as nossas mútuas tremuras, a mínima vibração dos nossos corpos presas de uma poderosíssima química que só loucos negariam. Mas que raio de dor é esta? Não a sinto e está lá; o fogo não se vê e arde, contudo; Na multidão, estou só contigo... Transformo-me eu, amadora, na cousa amada? Assim são os olhos do meu coração? Uma coisa é certa: são tristes e ledas as minhas madrugadas e «Camões, grande Camões, quão igual acho meu fado ao teu, quando os cotejo»...
É isto o tal amor?
[A., tens aí tua caderneta? Vou escrever aos teus pais: como castigo, quero-te! Encontramo-nos daqui a 5 horas, vinte e um minutos e uns trocos de segundos. Espera aí qu'eu já te digo... Entretanto, vou dormir. Tenta não me acordar durante os sonhos contigo, ok? Temos de concretizar umas punch lines...]

24 outubro 2006

Isto

Uma fazia anos. Outra disse-lhe que me viesse dar um beijo. Veio, aceitei, fiz-lhe votos de muitos anos a contar a passagem de outros, que tivesse um dia leve, felicíssimo, como convém a qualquer miúda de 13.
Nos corredores, quase me canso de ouvir "Stôra!", "Olá, stôra!", "Stôra, tudo ok?". Duvido que muita gente distribua tantos olás... (Chego a ganhar cãimbra no maxilar de tanto sorrir de passagem nos intervalos...).
Algumas disseram «Humm, caparfuuumee fresco, stôra!... Qual é?». Escrevo-lhes sempre as marcas no quadro. Se é rapaz a elogiar, se já é espigadote, matreirito, de 16, 17 anos, sugiro que compre igual para a namorada. Adoram a franqueza de quem lhes ensine pequenos "nadas" tão válidos - no que toca às estratégias sentimentais - como qualquer matéria-chave num exame.
(...)
Tudo perfeito no trabalho, na vida, na rua, em casa.
Depois, numa certa hora, ELE. Chega. Fala. Derrete-me. Analisa-me contornos e mede de olhares os lugares certos para poiso de mãos em ânsias, diz-me até ao âmago dos olhos que já lhe pertenço, prepara o minuto certo para o seu laço, faz-me amor - que retribuo em pensamentos longínquos apenas pressentidos do calor que ao rosto aflore - devagar, com mestria, degustando. Adivinho a que lhe sabe a boca: ao vinho que não bebo, aos cigarros que comigo partilhará, ao seu perfume de vontades de descascar roupas que penduraremos pelo tecto, em danças de olhares cravados, em noites de choro doce. Terá o seu nome em profusão, os lábios onde os queira, as mãos torneando-me, coluna jónica, base dórica, barro macio que ao toque cede de tão tenso. Morno. Perto. É já ali, o tal Jardim...
Descobre-se que se ama. Vai-se com calma. Uma calma que intimide um leão a ponto de quase se sentir inseguro: ouve-nos farrapos de conversas casuais, sorri com ar amistoso, esconde o brilho dos olhos que já nos mostrou naquele dia em que nos fez gargalhar com a sua desenvoltura. Ouve atentamente, tal como o ouvem todas as outras mulheres em volta com um mínimo de fantasia ou simples centelha de vida. Sabemos como o olham: gula! E mata-nos de gula, um determinado homem - entre outras coisas, beijá-lo da cabeça aos pés é a versão soft - mira e remira lábios, dentes, pernas, andar, o homem que se volta se passamos, que nos elogia com sorrisos, mas dá-se por ele intrigado, pensando porque não lhe caímos já aos pés. E ama-se. Assim, ama-se. Com ardor e sem fúrias; com lentidão e saboreando quando temos de falar-lhe. Os olhos prdem-se no riso, nos lábios, nos dentes, do charme dos cabelos já com fios de prata aqui e ali, com as marcas do tempo e dos vícios (quantas mulheres já terão sido presa desses lábios, sequiosas dessa língua, ardentes do toque desses cabelos numa ou na outra ponta de um seio, ao de leve, no encanto dos começos, inquietas dos dedos esguios, morenos e ágeis sobre o rodado de uma âncora, mãos que imponham uma rota de colisão preparada desde as primeiras respirações em uníssono na mesma sala?). Sabe-se que é aquele, que a frieza e a compostura levariam, em momentos-chave os nossos passos ao seu covil, que se mudariam santo-e-senha, mas que nunca nos terá, ah, nunca nos terá. O soberano pode derreter-nos de inclassificável delírio, mas nunca, oh, nunca nos terá... Um dia, perceberá que não se enlaça uma mulher que fez pacto de sangue. Ir até aos limites, e, lá chegada, voltar costas: antes de ti, meu amor, já eu existia una, unívoca, inteira no abandono. Não, delícia, não, amor, não, loucura: nunca te pertencerei por inteiro. Por isso, por falarmos em silêncio, sei que hesitas. Hesita, pois, eu saboreio. Sabes que as como eu intimidam por não lhes ser vital partilhar cama, mesa, filhos. Boa sorte com o meu tradicionalismo: fazendo o convencional, nunca sairei ferida. A chama que trago dentro não se aprisiona: o tantrismo urge o longe. Sabes que não pertenço: nem a pais, nem a irmãos, nem a homens - sejam eles, como tu, semi-deuses sugando-nos horas de sono, enchendo-nos as infinitesimais partículas da imaginação, medindo-nos palmo a palmo... Aqui onde não me tens, sabes. Sabes porque viste no fogo do nosso primeiro olhar cruzado que és tu - quem me domina - o soberano que uma presa levará para o Outro Mundo, para que esqueça o tempo, todas as outras fêmeas, quem é, em que acredita, com que sonha. Temo pela tua alma, quando sair de perto. Não me sigas. Só eu sei onde me escondo e tu, tu, amante eterno, não és bem-vindo nesse hemistíquio do verbo que me enreda o nome. Delícia, foge enquanto podes. A tudo o mais serei alheia, não ao mel da tua voz, não às tuas pernas que dominam, não aos teus braços octopussianos que desejo conhecer em enlace de asfixia. Queres mesmo entrar nesse reino? Deveras? Segura-te: nem todos arriscam tanto. Bebe do copo que te estendo e ficarás só, entregue ao passado. Despenteado, nem saberás que vendaval te tomou, perdido da razão por tempos. Sou eu a que procuras: a tua Mulher entre todas. Observa: estás marcado e eu nunca levo lastro. Vive-me e mima ter-me. É curto, o tempo. Uma destas noites terás privilégios de rei, suserano meu, semi-deus, homem-total, menino pequeno... Lacrimejo de luxúria, agracio-te com o Graal: bebes comigo?...

22 outubro 2006

NOTÍCIA

Nos próximos tempos, coibo-me de sentir tamanha felicidade como a que me deu "A" Notícia. Repentinamente, muito mais passou a fazer sentido. Sei de quem, nessa hora, fez preces baixinho. Deus nem sempre adormece do tédio que inspiram milhões de humanóides presos aos egos que os enterram, áridos de sentido(s)... Les pauvres herbes folles...

Gratia Plena

Concertos para piano;
Requiem;
Grandes obras para clarinete;
Quartetos para cordas.

Mozart, claro!
Os quatro primeiros CD's da magnífica colecção Millenium BCP. Nos próximos dias, embalo o meu amor pelos trinados de violinos. Os arabescos caprichosos das cordas trazem-me aos dias a paz sempre esperada, numa fase de ternuras incontáveis, chegadas a lugares desejados, o aprimorar de novas metas, um novo regresso a casa. Nesse percurso - aquele que sempre neguei, vestindo-me para ser ignorada, escondendo o que agora alguém colhe com méritos e delícias redobradas - os nadas das libertações diárias confluem para o lugar resguardado que tantos procuram nas azáfamas gananciosas de pantagruéis de infindáveis bílis. A doçura terá, eternamente, as suas compensações nos gestos retribuídos (não é todos os dias que nos beijam palmas das mãos em público! Cora-se até aos ossos! Que horror tão... bem aplicado ao pudor certo! Não há como um homem entre o soberano e o estouvado!) Ali, onde sempre soube, esteve o par de mãos certas para uma cintura em requebros de deliciosa angústia. I Knew best: saving it for last.
Hoje, coroa-se o dia outonal com A Música! Tempo chuvoso (adoro!), ar ainda morno mas já a pedir o aconchego de um casaco de malha, os folhas turbilhonando, expostas em avessos, mostrando milhares de versos verde-seco, como alguém que se despenteie em noites de clarividentes paixões. Eu já merecia esta chegada ao Potala! A minha Kaaba tem nome. Eu era o zaimph de Salammbô esperando que o recolhessem para brilhar nas escuridões secretas das paredes certas... Hoje, sei com redobrada delícia que sempre estivera certa. Que a vida se espraie como a chuva no vento norte, pois! Sei que vou bem, o amor leva-me pela mão: vou com Mozart!
!Beijos!

19 outubro 2006

"Há

que dizê-lo com frontalidade":

18 outubro 2006

.Branco.

Adoro. Adoro. Adoro.


A clareza da voz (sem cansar pelos tons agudos, como acontece com a de Teresa Salgueiro), a perfeição límpida de uma dicção irrepreensível, a selecção dos poemas que a guitarra portuguesa honra... Adoro este Ulisses de Cristina Branco que oiço em cd. Procuro Sensus, de 2003: só ouvi - numa rádio que o carro captou em longa viagem - uma das músicas e o sensual poema de David Mourão-Ferreira iluminou-me a manhã!

Descobri no site que amanhã há um concerto na Casa da Música! Raios, não descobri a tempo... Já comprei bilhetes para um ballet... Terá de ser numa outra oportunidade...


Fico aqui a saborear as Sultanas da Cuétara, com maçã, uvas passas e aroma de canela e a pensar na magnífica toilette que escolhi para o bailado. Futilidade importantíssima: amanhã, não usarei o diário Happy da Clinique, mas sim Beautiful Sheer, da Estée Lauder, mais romântico, a condizer com as roupas negras, os longos brincos de brilhantes para as noites mágicas. Mundo, aqui vou eu! Segurem-se, admiradores de Mulheres-deusas, o meu semi-deus vai comigo (e ele é alto, forte... e possessivo)!
;0)

17 outubro 2006

Hmm...

Ementa

. Bolachinhas Integralis (com fibras e L-carnitina) da Vieira de Castro (também a melhor portuguesa no fabrico de amêndoas da Páscoa!);
. Delícia de avelã e Cacau da Diese (sem sacarose!);
. Grande chávena de Chá Verde com Menta da Jacksons of Piccadilly (s/ Circus!), uma paixão de mais de três anos que traz ainda água à boca (o site, minimalista em fundo branco, é do mais exquis que já vi)!
Não é um lanche-ajantarado, pois não. O jantar é no melhor restaurante do mundo (e arredores!) pelas 21.30, com o ser-da-masculina-espécie mais absolutamente viciante do mundo e arredores (até já prometeu levar-me ao colo pelas escadas, antes do serão. Humm, creio que vou preferir o elevador...)!
Adenda: Uma noite destas com trovoada e Ray Charles em fundo é um supremo prazer (aguentas, coração?)!

16 outubro 2006

15 outubro 2006

Mofo, Bolor & Caruncho

Após dois magníficos dias desintoxicando da investigação na net, ver os resumos de alguns blogs. Os olhos tropeçam no infra-mundo tóxico que persiste como tortulhos numa horta.
Descobrir os dislates aplicáveis ao sábio "quem não tem vergonha, todo o mundo é seu": o auto-panegírico, o plágio e a falta de imaginação crónicos, au lieu de fazerem rugas neste belo rosto, ensinam-lhe os caminhos a evitar. De facto, não há limites para a estupidez, conclusão coroada pelo título do post de um dos bons blogs que aparece logo em seguida: «noção do ridículo». Eis tudo o que falta aos alpinistas da simpatia, alvos da piedade do talento e eternos fogos-fátuos na terra de cegos.
«Elles se rendent pas compte», escrevia Boris Vian.
Santas Noites, viandantes,
longe da pouca uva que sempre encerra a muita parra.