26 outubro 2006

Noite adentro (passe o plágio...)

Alinhavar acta: agruras de ser a "mais nova" (aquela colega xyz não terá menos de 37 anos? Humm, levaram-me na conversa do "tu és mais clara na escrita, gostas de fazer actas, és boa miúda..." Pois... Todos dormem; eu, que me levanto às seis e meia... alinhavo a acta. Estamos conversados! (Gosto disto, gosto disto, gosto disto, mandem mais (pá...)!)
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ELE já não passa sem mim. (Homens, vocês não são nada independentes, pois não?... Que raio de espécie... deliciosa espécie! A dele, claro: alta estirpe, pedigree, andar de profissional de sarilhos, mas uma profunda tristeza, agora que sabe que há, entre nós, uma poderosíssima química que já se sente à nossa volta - só não vê quem é ceguinho da costa -, e algo o leva a hesitar... Caramba, serei demasiado poderosa? Cumraispartaisto, carago, aos 37 ainda assusto os meus candidatos a pretendentes? Tá bem que estou mais gira que nunca e que deixei de esconder alguns dotes a que o mulherio chamaria trunfos de diva, mas (pá) - retiro o "pá" -, será ele mais corajoso do que tantos ou terei de ser eu a fazer as perguntas (pá)? [Recuso-me a retirar este "pá"!] Um destes dias (pode ser já na sexta ou arredores), faço-me ao lado dos fumadores na empresa do meu part-time, repito o subterfúgio dos outros dois dias para lhe inalar o inebriante after-shave: «Posso dar-lhe uma palavrinha, A.?» e - segura-te, A.! - digo que quero passar à prática do que me tem ditado a líbido mais imaginosa que me foi dado apenas suspeitar possível e me acorda a meio da noite numa boa maldição (raios, abomino o Represas, mas este bit da letra de uma música é na mouche!) ou imolo-me no meu fogo alizinho, agorinhamente, sem apelo nem agravo, ó anda cáqu'ésmeu e vocês aiólhar p'ra ontem evaporem-se se não querem ver chispas ou cheirar a chamusco! Tarrenego!
Ai ai, A. Na minha imaginação bellucciana, és o Vincent Cassel (tu és mais giro) e até já nos conhecíamos nas outras vidas (e tudo)! Raios, será que a beleza intimida assim tanto? Devo cortar os cabelos como todas essas loucas foragidas que escalaram a trunfa e fizeram madeixas loiras ou esticaram as caracoletas (internamento com elas, nunca se tosquia a moldura ondulada e sensual de um belo rosto: mulher que é Mulher faz penteados imaginativos, é camaleónica, solta a juba-até-à-cintura no vento se lhe der na gana)? Devo passar a ser masculina nas indumentárias? Deixar de parecer uma actriz italiana à maneira? Impor-me um andar marcial e másculo, como todas essas matronas horrorosas que me cruzam e deixar de ser feminilmente deslizante e ondulada nos gestos de ex-bailarina? Deveria eu usar dessas roupas acima-abaixo como se tivesse pescado os trapos de um contentor? Ter uma ar mais underground? Engordar? Tornar-me fumadora-de-dente-manchado, mauvaise mine, humor carroceiro e pôr de lado o meu riso de menina-doce-com-laivos-de-um-mau-pensamentozinho-aqui-e-ali? Deixo de usar esta maquilham de Donna e aplatino-me com a lambuzice desses glosses para gente sem lábios de jeito? Passo a fazer barulho com as solarias - óólhem p'a mim, que belos cascos, sou tão alta - e deixo de ser feminina e grácil?
A., tu queres a minha desgraça, homem?...
Faz-te à vida, que cenas loucas não me faltam. E depois, enfim, depois, quero perceber de vez que coisa é esta que me traz ao peito dor imensa que se instala e me põe em cianose, hiperventilação em peito-que-sobe-e-desce mais do que o das patinadoras canadianas após uma exibição de dança no gelo, bafo notório em vapor de água, rubras faces de pudor quando te vejo, olhos baixos para não denunciar que sei exactamente em que perímetro da sala estás, embora me finja autista, ar de quem nem te viu, mas percebe que me observas e me bebes cada palavra dita a colegas, cada passo que medes, as nossas mútuas tremuras, a mínima vibração dos nossos corpos presas de uma poderosíssima química que só loucos negariam. Mas que raio de dor é esta? Não a sinto e está lá; o fogo não se vê e arde, contudo; Na multidão, estou só contigo... Transformo-me eu, amadora, na cousa amada? Assim são os olhos do meu coração? Uma coisa é certa: são tristes e ledas as minhas madrugadas e «Camões, grande Camões, quão igual acho meu fado ao teu, quando os cotejo»...
É isto o tal amor?
[A., tens aí tua caderneta? Vou escrever aos teus pais: como castigo, quero-te! Encontramo-nos daqui a 5 horas, vinte e um minutos e uns trocos de segundos. Espera aí qu'eu já te digo... Entretanto, vou dormir. Tenta não me acordar durante os sonhos contigo, ok? Temos de concretizar umas punch lines...]