31 outubro 2006

Gárgulas

A tribo dos camafeus-múmias continua a farejar o trabalho alheio, todo o trabalho alheio, em passeatas pelo talento de outros - tudo lhe é alheio, tudo o que toca azeda, mete-se pelas costuras das roupas de quem lhe interessa, já é da praxe, a fama precede-a -, fareja, fareja, cutuca, cacareja, gargalha e brame como um macho e só ri do mal, só ri do mal - a prole anda-lhe no mundo, boa sorte, prole - entra em todas as festas, é um tremoço, uma oferecida, um copo descartável, foça e fossa até às bainhas, aos âmagos, faz chamadas, dá toques, comanda papalvos, sofre de formicação, marca encontros para actualizar-se, faz perguntas imundas, e foça e fossa - a prole anda no mundo, boa sorte... - toda se exalta em bílis negra, destrói, dilata invejas e dislata, dispara, banaliza, dessexua, fede, causa nojo à pele, machixa-se, desfeia-se, olhar de louca-furibunda, e quer, açambarca, carneiriza, ela, carneiro, grotesca, máscula, imbecilizada como guernica pequena com más tintas, apouca os lugares onde entra, sem classe, sem brio, sem mistério, sem fêmea dentro que a aqueça, esbate-se, expõe-se, esmaga tudo à passagem, bestializa, indecente, horrenda, feia, feia, feia, cada vez mais feia, mais incapaz, dedos tortos produzindo fel, caída, abortada, nula, vaga, esquisso de sucessos possíveis à força, ah, asco, brouillon, rascunho tosco, asquerosa mácula, mancha negra, infeliz, desinfeliz... estropia tudo o que é belo. A desculpa das várias personalidades aplica-se à cronicidade de ser escova: que ninguém esqueça que existe! Há-de prostituir-se até ao osso, até se crer saciada. Nunca lhe chegará e, à boca pequena, o mundo ri, o mundo esguelha-lhe os olhares de cínica previsão: «Coitada, é uma triste, tão falsa que brilha no escuro...», tragicomédia de si, não passa de inseguro apoucamento de indústria, observa a beleza do mundo, rosa enjeitada disfarçada de gente-gente. Escória. Resto. Pena...
Morrerá a tentar: o brilho não se compra com graxa, dona fea!
Uma Mulher não se vende.
Uma Mulher não rasteja.
Uma Mulher sidera!
[Elles se rendent pas compte, dizia Boris Vian]
{Influências: Hallowe'en por toda a escola,
vem aí a noite delas, que posso eu contra?
Las hay, las hay...}