28 outubro 2006

Parcialidade

A par com a vaidade sem méritos, a parcialidade recobre-se de asquerosos eflúvios. Se nos ativermos à maravilhosa razão (Descartes aprovaria), negaremos o que os simples sentimentos apaguem do nosso brilho. Gosto de pensar que o tempo me reservou as emoções para a escrita, tal como para os que amo. Aos que amo, entrego o coração nas mãos; à escrita dou-me por completo. Para ela não há limites. Creio que chamarei a isso justiça, porque a pratico. A injustiça dos juízos parciais volta-me o rosto com asco. Quem a pratica torna-se um resto de mundo. Tudo o que tolde o raciocínio - como a incapacidade para ser imparcial - é menor num mundo onde não tenho tempo para as simpatias forçadas a que chamo hipocrisia. Não estou cá para servir os egos dos que me rastejem em volta, buscando atenção, porque sei de há muito que agraciar o outro com um "que bom gosto!" é um auto-elogio. Faço-o, mas apenas se há mérito no outro. Se há injustiça, se tenho de ser correcta por politiquice, impeço-me sempre a tempo: nunca me arrependo do que digo ou escrevo. Convicta, digo verdades (as minhas, talvez) sem me arrepender. A parcialidade é execrável, como é execrável a hipocrisia. Aprendi muito, na metrópole...
Sim sim, ascendente balança! Nota-se, pois.
Um santo sábado, lectores.